União de elementos marca Palco Hip-Hop 2012
Primeira etapa do evento agita capital mineira e leva cultura hip-hop ao Morro das Pedras e ao SESC Palladium com break, dj, mc, graffiti e conhecimento
Dj, MC, break e graffiti. Uma celebração ao hip-hop. Assim pode ser resumido o evento Palco Hip-Hop, que teve a primeira etapa finalizada na última semana na capital mineira de Belo Horizonte.
No palco do SESC Palladium, mais de duas mil pessoas puderam assistir as manifestações da cultura urbana na sua forma mais completa.
Com apresentação de Zaika e Oz Família de Rua, o encontro reuniu atrações locais e nacionais. A discotecagem ficou por conta de Dj Junin Bumbep, que preencheu os intervalos do encontro com o melhor do rap.
Numa pegada mais light, o encontro trouxe Kdu dos Anjos, que com a clássica “Faixa Amarela” e os demais sucessos do disco, além da declamação de poesias ao melhor estilo sarau de literatura periférica.
MC Vinição apresentou, como convidado, U-Gueto e abrilhantou a noite com as rimas belo-horizontinas. Na sequencia, Kontrast, que faz história no hip-hop mineiro subiu ao palco e enriqueceu o espetáculo com suas rimas.
Ao vivo, os graffiteiros Ed Mun, Dágson Silva e Raíson Lucas pintaram um painel, em protesto as constantes tentativas de desocupação na comunidade Zilah Espósito, em Belo Horizonte.
Inclusive, a comunidade foi lembrada durante todo o evento pelos que subiram ao palco e pediram para que as cenas da comunidade do Moinho e do Pinheiro, em São Paulo, não sejam reproduzidas também em Minas Gerais.
Na sequencia foi a vez do grupo Julgamento, que com o repertório do álbum “Muito Além”, embalou o público presente, num rap feito com banda.
E para completar e reunir todos os elementos do hip-hop no palco, a Spin Force Crew realizou um verdadeiro show. Criada em 1992, a crew já está na quinta formação e além de apresentar as origens da cultura através da dança, fazendo um resgate das block parties surgidas no Bronx em 1973.
Segundo Reinaldo Ribeiro, 33 anos, que está na crew desde 1996, quando se deu a segunda formação, o grupo procura manter vivas as raízes do hip-hop. “Nosso estilo se baseia na originalidade. Procuramos trabalhar recontando a história, até porque o hip-hop é uma cultura auto-didata e sentimos a necessidade de estimular esse contato do público com as raízes, mesmo que de maneira indireta”, diz.
Questionado sobre a participação de um evento da magnitude do Palco Hip-Hop, Ribeiro se diz bastante honrado, ao representar a crew que conta hoje com 18 b. boys, duas b. girls e um MC. “É muito gratificante estarmos aqui, faltava esse tipo de evento, com tanto profissionalismo e que levasse o hip-hop a um espaço como este, do SESC. Com isso, notamos que estamos nos apropriando de um novo espaço também”, acrescenta.
A fala dele vai ao encontro do que pensa o organizador, Victor Magalhães, que declara que o objetivo do evento foi alcançado. “Nosso intuito, desde o princípio, foi promover o acesso ao hip-hop, seja nas quebradas, seja em espaços diferenciados e conseguimos realizar uma excelente etapa no Morro das Pedras e a finalização no SESC Palladium”, comenta.
Uma performance envolvendo o grupo DJs Ressonantes também mostrou ao público, sob outra ótica, a magnitude dos DJs em ação. Para quem assistiu, como Elaine Cristina Martins de Paiva, a ação foi surpreendente. “A gente sempre se limita quando pensa em hip-hop e ver tantas manifestações assim, numa só noite é algo inesquecível. Eu fiquei admirada em ver a habilidade dos DJs para manejarem os toca-discos”, enfatiza.
E, antes da atração principal, o famoso Duelo de MCs de Belo Horizonte – onde vence quem derrotar o adversário com a melhor rima – invadiu o Palco Hip-Hop e ali mesmo, com o voto do público, aconteceu a semi-final. De quatro MCs, dois vão para o duelo final que acontece em maio, no bairro do Barreiro, durante a segunda etapa do mesmo festival.
Por fim e bastante esperado, Rappin Hood, da zona sul da capital paulista ganhou o palco e em primeira mão apresentou dois novos sons que estarão no próximo álbum – Sujeito Homem 3.
Para ele, se apresentar no evento foi uma conquista. “Fiquei muito feliz em poder me apresentar num evento como o Palco Hip-Hop. A vibe da plateia foi contagiante e fiz um show inesquecível”, coloca.
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Outras etapas
E o evento não foi só isso. Dois dias antes, um debate sobre “Hip-Hop – Resistência, desenvolvimento e atualidade” com Roger Deff, do coletivo Bambata, Eduardo Sô, o rapper Renegado, Dj Zeu Pro Beats e Fabrício Souza, da Spin Force Crew envolveu representantes do movimento na Escola Municipal Hugo Werneck para uma conversa sobre a cultura e estes novos rumos, que o organizador, Victor Magalhães define como muito importante para o hip-hop. “Foi um debate muito rico e esclarecedor. Os participantes puderam interagir com o público e trazer questões que estamos vivendo hoje em dia, mas que não deixam de ser novas”, acredita.
No segundo dia do evento, um debate sobre “A mulher e o hip-hop” também aconteceu no mesmo local, com a presença da jornalista, escritora e professora Márcia Maria Cruz, da cientista social especializada em gênero, Áurea Carolina, de Vanessa Beco, do coletivo Negras Ativas e também membro da Frente Nacional de Mulheres do Hip-Hop (FNMH²), além de Jéssica Balbino, que além do debate, realizou também o lançamento do livro “Traficando Conhecimento”.
Esta foi a primeira parte do evento, que conta com uma nova etapa em maio, quando os eventos acontecem na comunidade do Barreiro, uma das áreas mais carentes de Belo Horizonte.
“Estamos no segundo ano do Palco Hip-Hop e alcançando o que nos propusemos, que é levar o hip-hop ao maior número possível de pessoas. Em 2011, fizemos um show para quase 10 mil pessoas, gratuitamente, no Barreiro. Neste ano, nossa expectativa é semelhante”, completa Victor.
Serviço – Outras informações sobre o evento podem ser encontradas no site http://www.palcohiphop.com.br