A poesia vai tomar conta das quebradas. O objetivo deste projeto é o de levar a literatura periférica para as ruas, literalmente. Extraí-las das páginas dos livros e apresentá-la em um novo suporte, um suporte público e temporário, no entanto com grande potencial atrativo e mais abrangente, o lambe-lambe. A poesia vai aparecer inusitadamente. Virá como um presente, um desafio, um respiro, uma fuga para transeuntes, motoristas, passageiros, uma quebra na rotina, uma reflexão para o dia a dia de milhares de pessoas que passam pelas ruas lotadas, cheias de signos e propagandas por todos os lados, e principalmente, um convite à leitura e à uma nova percepção do cenário urbano periférico usando a arte como canal de compreensão do mundo, com um desejo enorme de diminuir a distância tão comum, dada a educação deficiente que nossa classe social recebe, com a literatura e como meio para questionar e transformar a vida urbana cotidiana.
Brasil, São Paulo, capital, Zona Sul, Piraporinha, Chácara Santana, Bar do Zé Batidão, Sarau da Cooperifa, poeta Sérgio Vaz. Ponto de partida. Sim, o jogo de palavras desta intervenção partirá deste poeta de coração e vocação, formado nas ruas e que começou a escrever poesias em papel de pão, lendo pessoas e escrevendo o silêncio sentido do cotidiano das quebradas, de onde já extraiu cinco livros. Através do Sarau da Cooperifa, onde é co-fundador, Sérgio Vaz desmitificou a poesia e pediu silêncio para escutar o povo, e conseguiu levantar um exército de poetas e um movimento literário lindíssimo, de estética pura e verdadeira, a Literatura Periférica. Ele quer mais, a cidade também.
Para fortalecer essa corrente comunitária de literatura e tentar vencer a informação rápida e superficial, a individualidade e a crescente vontade de TER e não mais SER dos dias atuais, as palavras do poeta tomarão as ruas durante esta intervenção através da linguagem do Lambe-lambe, uma vertente da arte de rua tão presente em nossos muros e postes, que utiliza cartazes – com frases, desenhos, poesias, entre outros – como manifestação nos meios urbanos e são colados para transmitir uma ideia, realizar divulgação ou fazer protestos, visando criar relações afetivas com o cenário que não a da objetividade funcional que aplaca o dia-a-dia.
Para coordenar e produzir artisticamente esta intervenção, transpondo o suporte desta arte, a ilustradora e desenhadora gráfica das quebradas, Silvana Martins, trabalhará, sobretudo, tipograficamente sobre estas poesias, adequando os conteúdos aos locais que pretendem ser utilizados como plataforma para esta intervenção.