Ouça 'Mulheres Negras', música compostas por Eduardo do Facção Central e cantada por Yzalú
Facção Central sempre foi referência para a cantora Yzalú, não só pelas músicas mas também pela postura e ideologia.
Uma das ações responsável por lançar Yzalú no cenário foi quando em 2010, Yzalú fez a releitura da música “Desculpa Mãe”, composição de Eduardo ao grupo Facção Central.
Foi entre uma conversa e outra, nos bastidores de um show que Yzalú tomou coragem e pediu uma música inédita para Eduardo, que após alguns meses conseguiu colocar no papel tudo o que Yzalú sempre teve vontade de gritar.
A música foi gravada ao vivo no Teatro Lauro Gomes em SBC e faz parte integral do DVD da cantora, que será lançado em breve.
Leia a letra, aperte o play, escute e comente:
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Compositor: Eduardo (Facção Central)
Arranjador e Intérprete: Yzalú
Mulheres Negras (Letra)
Enquanto o couro do chicote cortava a carne, a dor metabolizada fortificava o caráter;
A colônia produziu muito mais que cativos, fez heroínas que pra não gerar escravos matavam os filhos;
Não fomos vencidas pela anulação social, sobrevivemos à ausência na novela, no comercial;
O sistema pode até me transformar em empregada, mas não pode me fazer raciocinar como criada;
Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo, as negras duelam pra vencer o machismo, o preconceito, o racismo;
Lutam pra reverter o processo de aniquilação que encarcera afros descendentes em cubículos na prisão;
Não existe lei Maria da Penha que nos proteja, da violência de nos submeter aos cargos de limpeza;
De ler nos banheiros das faculdades hitleristas, fora macacos cotistas;
Pelo processo branqueador não sou a beleza padrão, mas na lei dos justos sou a personificação da determinação;
Navios negreiros e apelidos dados pelo escravizador falharam na missão de me dar complexo de inferior;
Não sou a subalterna que o senhorio crê que construiu, meu lugar não é nos calvários do Brasil;
Se um dia eu tiver que me alistar no tráfico do morro, é porque a Lei Áurea não passa de um texto morto;
Não precisa se esconder segurança, sei que cê tá me seguindo, pela minha feição, minha trança;
Sei que no seu curso de protetor de dono praia, ensinaram que as negras saem do mercado com produtos em baixo da saia;
Não quero um pote de manteiga ou um xampu, quero frear o maquinário que me dá rodo e Uru;
Fazer o meu povo entender que é inadmissível, se contentar com as bolsas estudantis do péssimo ensino;
Cansei de ver a minha gente nas estatísticas, das mães solteiras, detentas, diaristas.
O aço das novas correntes não aprisiona minha mente, não me compra e não me faz mostrar os dentes;
Mulher negra não se acostume com termo depreciativo, não é melhor ter cabelo liso, nariz fino;
Nossos traços faciais são como letras de um documento, que mantém vivo o maior crime de todos os tempos;
Fique de pé pelos que no mar foram jogados, pelos corpos que nos pelourinhos foram descarnados.
Não deixe que te façam pensar que o nosso papel na pátria, é atrair gringo turista interpretando mulata;
Podem pagar menos pelos os mesmos serviços, atacar nossas religiões, acusar de feitiços;
Menosprezar a nossa contribuição na cultura brasileira, mas não podem arrancar o orgulho de nossa pele negra;
Refrão:
Mulheres negras são como mantas Kevlar, preparadas pela vida para suportar;
O racismo, os tiros, o eurocentrismo, abalam mais não deixam nossos neurônios cativos.