Ostentação no RAP: necessidade ou luxo?
Por Ricardo Couto
Desde os anos 90 já se via raps onde o tema central era ficar rico e ter todas as regalias possíveis. O Wu-Tang Clan lançou o icônico Enter the Wu-Tang (36 Chambers) em 1993, por exemplo. Na música C.R.E.A.M. já se ouve “Cash rules everything around me / C.R.E.A.M. / Get the money” ou seja, “Dinheiro domina tudo ao meu redor / CREAM / pegue o dinheiro”. Na música, cada membro do Wu Tang conta como o sucesso é uma porta de saída para tudo de ruim que eles passaram na vida.
Já 2pac, além de mencionar seu Hennessey em diversas músicas, fez até uma faixa inteira sobre sua bebida favorita junto ao também rapper Obie Trice.
Outro que sempre fez músicas ostentando sua fortuna ainda nos anos 90 foi o inimigo número 1 de 2pac, Notorious B.I.G. Juicy, Mo’ Money, Mo’ Problemas são exemplos que disso, a pergunta que fica é: Isto afeta a qualidade da música? Para responder a pergunta, temos que analisar o hip hop ao passar do tempo.
Desde os anos 90 até hoje houve uma decadência notável na qualidade do rap mainstream. Algo original se tornou um simples show-off de quem tem mais. Antes, rappers mostravam o que tinham como forma de comemorar a vitória que tiveram, da vida difícil superada através de muita luta, seja ela de forma ilegal ou não.
No Brasil os Racionais MCs exemplificam bem isso em letras como Vida Loka II, onde mostra um rapper sonhador que pretende ter Audi’s, Citroen’s e Bausch & Lomb’s. Ainda no rap internacional, outro exemplo é da ostentação atualmente é este clipe de Eminem, Kanye West e Drake, onde é possivel ver logo no começo LeBron James jogando poker no PokerStars, dentro de um Maybach, em um laptop Beats by Dre personalizado. Quer mais ostentação que isso?
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Mas ainda bem que estão aparecendo rappers novos com ideais diferentes para mudar um pouco as coisas. E ao falar isso, não é porque a ostentação é algo ruim, mas sim repetitivo. Se todos os rappers falam do mesmo assunto há mais de duas décadas, não existe mais originalidade. Uma prova disso é que rappers independentes estão fazendo sucesso após anos de trabalho árduo sem gravar com nenhuma gravadora simplesmente sendo originais. Por exemplo, o americano Macklemore. O rapper ficou famoso em 2012 com o álbum The Heist, mas poucos sabem que ele já batalhava desde 2000 como rapper. Curiosamente, uma de suas músicas mais famosas, Thrift Shop, que foi uma das razões para ele ficar tão famoso, é basicamente o oposto de ostentação. Ao invés de cantar sobre usar ternos e óculos igualmente caros, Macklemore canta sobre comprar pijamas do Batman e pegar roupas do avô. Para ter ideia do sucesso da música, no dia 18 de setembro deste mês, a banda passou dos 7 milhões de cópias vendidas do single, ou seja, 7 vezes platinum. Enquanto isso, no Brasil, o funk ostentação está cada dia mais na boca do povo. Será que o jeito Macklemore de ser chega ao país?
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