Invadiu já era: O RAP como denúncia e resistência.
Diretamente do Capão Redondo, o grupo de rap, Negredo, formado por MC Tó, seu irmão Ylsão e o DJ Ale, trás todo o aprendizado das ruas em suas letras. O lançamento da vez é “Em nome do rei”, com participação do DL Villano e produzida por Filiph Neo.
A canção e o clipe abordam a importância das religiões de matrizes africanas e a resistência contra o racismo religioso frente a elas no Brasil. Sabe-se que, devido ao racismo estrutural e o pensamento colonial enraizado na sociedade vigente, essas religiões sofrem represálias desde o seu surgimento.
Na época da escravidão, os pretos trazidos da africa como mercadoria eram impedidos de cultuarem as suas religiões maternas. Nesse contexto, surgem religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, as quais os orixás, entidades cultuadas nas doutrinas africanas, eram sincretizadas com santos cristãos. Além desse sincretismo, entidades com arquétipos brasileiros eram adoradas, como a malandragem, os caboclos e os baianos. Assim, as religiões afro-brasileiras surgem como uma forma de liberdade e resistência contra essa opressão.
Nesse contexto, vale ressaltar que, em 1988, é lançado o primeiro disco de rap no Brasil, o “Hip-hop cultura de rua”, pela gravadora Eldorado, na qual Thaíde e DJ Hum, são responsáveis pela primeira faixa do disco “Corpo fechado”. A letra dessa faixa, trás por meio dos orixás do candomblé, fé e espiritualidade. Confira no seguinte verso: “Ogum, iemanjá e outros santos ao além” (THAÍDE e DJ HUM, 1988).
O rap surge dentro do capitalismo como forma de contradizê-lo, por meio de denúncia e crítica às desigualdades sociais, raciais, classicistas e culturais. Dessa forma, com o surgimento do rap, surgiu uma maneira indispensável de reflexionar e analisar os estratos da sociedade, em seu âmbito estético e sociocultural, assim como as linguagens usadas para denunciar as injustiças do Estado contra os marginalizados pela sociedade. O hip-hop então, se torna a manifestação artística mais contundente surgida no século XX no sentido de resistência e luta social que os pretos latinos periféricos usam para se expressarem.
Ainda, pelo seu caráter ativista do hip-hip, Afrika Bambaataa defende o conhecimento como um dos seus componentes, além do MC, do DJ, do grafite, do break e do próprio rap. Bambaataa, é um nome importantíssimo no hip-hop, sendo um dos DJ pioneiros no Bronx.
No Brasil, o rap se desenvolve no período da redemocratização com a Constituição de 1988, após a aversiva ditadura militar, ou seja, a democracia está conturbada pela violência chacinas e massacre nas periferias das grandes cidades. Assim, o rap é um contra discurso contra toda essa hostilidade.
Pode-se afirmar então, que esse movimento artístico e cultural alterou o cenário cultural do país, dando visibilidade àqueles excluídos unicamente pela existência do sistema, principalmente, a população preta periférica. Nesse sentido, o rapper é aquele que traz vida aos indivíduos alvo do Estado e é uma forma de reescrever a história do país, para que todos aqueles que têm origem na periferia vejam que o lugar deles é onde eles quiserem ocupar, é a voz da periferia para a periferia.
O grupo Negredo, influenciado, principalmente, pelo “Os Metralhas”, carrega consigo toda essa trajetória de luta, contando hoje com quatro álbuns, sendo eles:
- Mundo Real, 2005;
- A Cúpula Negredo, 2010;
- Cash Game, 2016; e
- Invadiu Já Era, 2022.
Além deles, a discografia completa é composta por DVD’s, EP’s, coletâneas e singles. E para vocês já irem se preparando, a expectativa é que o grupo ainda lance um álbum ainda este ano. Então fiquem atentos que os novos lançamentos virão pesados.
Ademais, eles já tiveram parcerias com outros grandes nomes do rap, como Dum Dum, do Facção Central, Mano Brown, do Racionais MC’s e DJ Cia, do Rzo.
Assim, a mensagem que o integrante MC Tó deixa para vocês quanto a música é que, se quiserem seguir essa caminhada, amem o que fazem. O hip-hop e a periferia vivem e vão ser ouvidos, até que todos os espaços estejam ocupados. O rap não é escolha, é libertação. Até porque, invadiu, já era!
Confira a ficha técnica do lançamento, “Em nome do rei”:
Negredo – Em Nome do Rei
Cantor : Intérprete : compositor @MctoNegredo – @YlsãoNegredo
Participação: Dl villano
Produção: @Filiphneo
Realização: Cúpula Negredo Direção fotográfica: @NanáPrudencio
Imagens: Naná Prudencio e Arnaldo Soares
Edição: Zalika Produções
Produção: Diolanda Lopes
Ass de Produção: Glaucio Cerqueira
O grupo hoje domina mais de 2 milhões de visualizações por música no youtube! Não fiquem de fora dessa!
Ouçam também:
“Sede de vitória”:
“Quer falar de amor”: