[LM] Do lixão… nasce a dor – Markão Aborígene

 

Markao AborigeneAs pipas dividem espaço com urubus

Na pista não há rolimãs, mas carretas.

O dia se passa em pouca luz

Se respira em um eclipse de poeira

Lonas, madeiras, pedaços de telha, pregos expostos.

O piso batido, fios, emendas, sustentam esforços.

Trabalho diário, raro descanso, sonho pretérito.

Pra que no futuro não haja trator ou tumulto,

a derrubar o lar, o teto.

Singela morada que externiza orgulho

Apenas uns palmos num canto do mundo

Apenas a mata que fica nos fundos

Da câmara, senado, ou debaixo de viadutos.

Sobras de obras viram carroças que por horas trafegam

Levam pra casa o que sua casa nega

O resto, o podre, o que se perdeu

que a promoção não vendeu

Fora de moda agora são velhas

A compra do voto em camisa impressa

Comumente usada de sul a norte

Trazem a certeza de falsas promessas

Pois vestem elas e não uniformes

Pro aumento da renda a infância não dorme

Na noite procura, vasculha o lixo.

Aguarda descarga proveniente do shopping

Mas o cansaço é forte acaba dormindo

Em cima do monte de produto vencido

Faz deste mesmo lixo o seu cobertor

Ao amanhecer família chora

Criança foi morta, esmagada por um trator.

Por Markão Aborígine

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