CAFÉZINHO: O Bairro Marcado Pelo RAP

Texto Cristiane Oliveira
Fotos Jurssa Santos

Núcleo Residencial Independência, independentes até no nome, o bairro antes notado pela violência hoje cria alternativas para disseminar cultura popular aos moradores

Cafézinho, uma expressão aconchegante, que nos remete a um momento em família ou amigos, é em torno de um bom café que surgem conversas, risadas e momentos de alegria.

Cafézinho também é um bairro da cidade de Campinas, que mesmo tendo seu nome mudado para Núcleo Residencial Independência, nunca deixou de ser Cafézinho, e especializou-se na arte de receber bem, lá o Hip-Hop encontrou um espaço para desenvolver-se e ganhar novos adeptos.

A ligação do bairro com a cultura Hip-Hop inicia no ano de 1999, quando o grupo Ments, fundado ali mesmo no bairro, iniciou os caminhos musicais, os integrantes passavam horas com um aparelho de som velho ouvindo Rap na rua, o agito trouxe 10, 20, 30 pessoas nos primeiros finais de semana, a proporção dos adeptos foi aumentando e o velho aparelho de som foi substituído por uma aparelhagem profissional, o Dj James (Dj do Ments na época) colocou as caixas de som na rua e  a Viela três –local onde rolava a festa improvisada – começou a receber uma média de 500 pessoas por final de semana, “Era todo mundo nos velhos passinhos, começaram a aparecer vendedores ambulantes com churrasco e cerveja,  a Viela três virou a rua do Rap” comenta Bruno, vocalista do Grupo Ments e um dos organizadores das atuais festas do Cafézinho.

Depois desta época, por alguns anos, os eventos envolvendo Hip-Hop ficaram parados, mas, como um vírus que fica incubado e em algum momento se manifesta, assim se deu no Cafézinnho. O público pediu o Rap bateu mais forte no coração e o Hip-Hop voltou, desde então nomes como: Realidade Cruel, A Família, Ndee Naldinho, Dexter, DBS e a Quadrilha, Mc Cauan, Nove Milímetros, Inquérito, Poetas Modernos, Identidade Negra, Sistema Negro, Sinfonica D` Perifa, Ca.Ge.Be, Edi Rock, Floripa Mcs, Manifesto, Palavra de Honra, Palavra Feminina, Mr. Catra, Família Sagrada Família entre outros, deixaram sua marca no Cafézinho,  até esta revista que você lê, já passou por lá, as edições dois e três foram lançados na festa do bairro. “O interessante é que o evento cresce a cada nova edição, em 2012 encaramos a missão de organizar uma festa por mês, e para nós, ver a rua lotada e o povo divertindo-se gratuitamente é muito bom” diz Bruno Ments.

As festas ganharam um espaço próprio com direito a palco montado com engradados de cerveja e um público fiel de adeptos e não adeptos do Rap “Recebemos pessoas que gostam de Rap, quanto pessoas que não gostam, mas que aprenderam a respeitar, pois, as festas são bem familiares, sem brigas, sem violência, mostrando algo que é totalmente contrário ao que o censo comum prega. Os moradores do Cafezinho abraçaram o Rap”, pontua Bruno.

O próximo passo é levar uma cultura diferenciada para o bairro, um Sarau Poético com a presença de nomes importantes da Literatura Marginal está na agenda de possíveis eventos, o Bar da Maria –local onde acontece as festas- acostumado ao barulho alto das caixas de som, será invadido pela calmaria da poesia, seguindo exemplos de tradicionais saraus como o do Binho e o da Cooperifa ambos realizados em bares.

Outra influência forte no bairro é o futebol, o time da quebrada, Grêmio Cafézinho, tem uma parceria com o grupo Ments e vários eventos são realizados juntos. A sociedade que começou em 2010 rendeu frutos, além de apoiarem diretamente o time, eles dedicaram uma canção ao Grêmio Cafézinho, a música (nome da música) virou um hino e é entoado pela torcida durante as partidas.

“Quando organizamos as primeiras festas lá no ano de (qual ano?) nosso sonho era ver grandes nomes do Rap cantando no Cafézinho”, hoje, Bruno vê o que era uma utopia se tornar realidade, grandes nomes do Rap já cantaram no Cafézinho, citamos como exemplo: A Família, Edi Rock, Realidade Cruel e Ndee Naldinho, este último, deixando uma marca maior nos organizadores “Em 2009 o Naldinho estava agendado para um show aqui no bairro, mas recebemos um convite para um dia antes cantarmos em Santa Catarina na abertura do Show do Bang Johnson, tivemos que deixar tudo que estávamos fazendo e literalmente voar para Santa Catarina, foi tudo muito corrido, não tivemos tempo de nos dedicarmos à festa, mas para nossa surpresa rolou tudo perfeitamente  e naquele dia o público foi estimado em duas mil pessoas, foi emocionante”.

Batalha de DJs, outras edições da batalha de MCs, estão nos planos para os futuros eventos, existe também o desejo de introduzir a sétima arte nas festas com a exibição de documentários e filmes ligados à periferia.

Assim o bairro que já foi marcado pela violência, segue dando exemplos de que cultura é possível em qualquer lugar, independente de condição social, iniciativas como esta, devem servir de exemplos para serem seguidas Brasil a fora “A união foi a arma que encontramos para trazer cultura ao Cafézinho, são pessoas que carregam os mesmos ideais e veem que é possível realizar grandes coisas quando saímos do discurso e partimos para a ação” conclui Bruno.

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